O chamamé é um estilo de música e dança popular que compreende os chamados ritmos do folklore. Foi criado na província de Corrientes, na Argentina e, devido à proximidade, também é muito popular no Paraguai. Também foi muito difundido nas regiões onde há a cultura gaucha — assim, sem acento —, como Uruguai e os estados brasileiros Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Considerado Patrimônio Imaterial da Humanidade, o gênero também tem como principal influência o povo indígena guarani, sendo, muitas vezes, cantado em seu idioma — ou, ao menos, usando algumas palavras guaranis.
Qual a origem do chamamé?
A principal base do chamamé são as músicas de raiz guarani. Usada em celebrações religiosas, como é o caso da cerimônia Jeroky ñembo’e, os povos indígenas da região tinham estruturas musicais bem formadas.
Inclusive, a conhecida “viola caipira” de cinco cordas é muito usada no ritmo, sendo chamada também pelo termo guarani mbaraká.
A invasão jesuíta nas terras que hoje são a província de Corrientes, na Argentina, e no Paraguai, obrigou os povos originários a aprender teorias musicais vindas da Europa. Com isso, houve uma fusão do que já era conhecido pelos indígenas com o que era europeu.
Considerando que o ritmo começou a evoluir na época das missões jesuíticas, é possível estabelecer uma origem aproximada no século 16. Inclusive, com cerca de 500 anos de história, o ritmo passou por muitas modificações, como é o caso de instrumentos que se perderam no tempo.
Para mencionar exemplos dos que já fizeram parte da música, são eles:
- tukuapu: bastão rítmico;
- mimby: flauta similar à quena andina;
- tururu: trompete feito de cana-de-açúcar;
- cordófono: um ancestral da famosa harpa paraguaia.
Já no século 17, a chegada dos negros na região de Corrientes também foi importante para a evolução do chamamé, em especial para a parte da dança. Eles se reuniam em festejos, como é o caso da Festa de San Baltasar, que ocorria no parque Cambá Cuá.
A partir do século 19, é importante destacar, também, a influência específica da Alemanha. Com isso, chegou um instrumento muito importante para formar a sonoridade do chamamé: o acordeão, que foi importante para o desenvolvimento do bandoneón, instrumento similar.
Ele é muito utilizado nas polcas alemãs — que também foram essenciais para influenciar na criação de outro ritmo da região, a polca paraguaia.
Por fim, é importante destacar a imigração de judeus sefarditas para a região, que causou um aumento expressivo de músicos dessa origem no gênero.
Apesar do ritmo ter se afastado um pouco da origem guarani com o passar dos séculos, a influência nunca deixou de ser presente. Um grande exemplo é que as músicas são cantadas muitas vezes em espanhol, mas muitos termos regionais vêm diretamente do idioma indígena.
É o caso de sapukái, que significa “grito” em guarani. Quando os músicos estão apresentando um concerto e querem que o público grite e faça barulho, eles soltal um “sapukai” no microfone — e os espectadores entendem perfeitamente o que deve ser feito.
Popularidade regional do Chamamé
O que começou em Corrientes (Argentina) e se espalhou para o outro lado da fronteira com o Paraguai, também chegou a muitos outros lugares.
Dentro da Argentina, se popularizou primeiro em províncias na região conhecida como Litoral — pois fica entre os rios Paraguai e Paraná —, como é o caso de Entre Ríos, Santa Fe, Misiones, Formosa e Chaco.
Com a ascensão das músicas folclóricas no noroeste do país, em especial os gêneros chacarera e zamba, o chamamé também se tornou muito apreciado em Santiago del Estero, Jujuy, Salta e Tucumán, até chegar em todo o território argentino, inclusive na Patagônia.
O Uruguai, que também fica muito próximo da Argentina e do Paraguai, também foi bastante influenciado, sendo um dos maiores consumidores do ritmo fora dos dois países.
É válido ressaltar que até mesmo o Brasil tem um grande público para o chamamé. Em regiões no Rio Grande do Sul — que faz fronteira com o Uruguai e a Argentina — e no Mato Grosso do Sul — que está na divisa com o Paraguai —, é muito comum ouvir esse tipo de música, porém em maioria na língua portuguesa. Além disso, ambos os estados também têm forte presença guarani, que é a raiz do gênero.
Principais músicas e artistas
O primeiro chamamé gravado foi “Corrientes Poty” — considerando que poty é “flor” em guarani — do paraguaio Samuel Aguayo. Lançado em 11 de janeiro de 1931 pela RCA Records, esse disco foi essencial para a difusão do gênero em Buenos Aires, local onde o artista morava desde os 18 anos de idade.
Inclusive, por conta disso, a primeira onda de gravações do gênero ocorreram na capital argentina, já que vários músicos viajavam até lá para conseguir um contrato com a gravadora. Aos poucos, a indústria musical foi se espalhando e, logo, foi possível que artistas pudessem gravar e difundir a música em sua própria região.
Algumas das músicas mais populares — e que foram regravadas inúmeras vezes — são “Mi Corrientes Porá”, “Kilómetro 11”, “Alma Guaraní”, “Ñangapirí”, “Puerto Tirol”, “Lucerito Alba” e “Taipero Poriahu”.
Já entre os artistas, vale destacar Osvaldo Sosa Cordero, Tránsito Cocomarola, Isaco Abitbol, Teresa Parodi, Mario Bofil, Los Alonsitos e Ramona Galarza.
Alguns dos folkloristas que não cantam essencialmente chamamé, mas eventualmente gravaram músicas no gênero e ficaram populares foram Horacio Guarany, Chaqueño Palavecino e Soledad.
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